ATENÇÃO: Blog sem vínculos institucionais! Instrumento particular do Professor.

DESTAQUES DO BLOG:

Presença Educativa => Abertura, reciprocidade e compromisso: pilares da Pedagogia da Presença, o resgate do relacionamento humano.

Sobrevivência Docente => Breve histórico da decadência de nossa profissão e algumas dicas para sobreviver - leia o texto inteiro, antes de mais nada.

Bullying => Sugestões de links para tratar desse assunto de forma séria e urgente. Não pode-se ignorar, nem deixar para depois.

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01 novembro, 2008

A importancia do NAO - Criando um Monstro

Criando um Monstro

O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a
própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada?

Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação
social da violência? Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental?
Permissividade da sociedade? O que faz alguém achar que pode comprar armas
de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar
vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas
inocentes?

O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'. A garota disse Não, não
quero mais falar com você. E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não.
Seu desejo era mais importante.

Não quero ser comparado como um desses psicólogos de araque que
infestam os programas
vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e
fala descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei
que o não da menina Eloá foi o único. Faltaram muitos outros nãos nessa
história toda.

Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um
rapaz de 19. Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir
lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha. Faltou outros pais
dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a
filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com
vida. Faltou à polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a
garota de volta pra lá. Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da
imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador conversasse e
chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.
Simples assim. NÃO. Pelo jeito, a única que disse não nessa história foi
punida com uma bala na cabeça.

O mundo está carente de nãos. Vejo que cada vez mais os pais e professores
morrem de medo de dizer não às crianças. Mulheres ainda têm medo de dizer
não aos maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas). Pessoas
têm medo de dizer não aos amigos. Noras que não conseguem dizer não às
sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue
dizer não aos próprios desejos. E assim são criados alguns monstros. Talvez
alguns não cheguem a sequestrar pessoas. Mas têm pequenos surtos quando
escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da
namorada, do gerente do banco. Essas pessoas acabam crendo que abusar é
normal. E é legal.

Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu filho'. E não é raro eu ver alguns
tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos. Outros gastam o que não têm em
brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias.
Sem falar nos adolescentes. Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer não,
você não pode bater no seu amiguinho. Não, você não vai assistir a uma
novela feita para adultos. Não, você não vai fumar maconha enquanto for
contra a lei. Não, você não vai passar a madrugada na rua. Não, você não vai
dirigir sem carteira de habilitação. Não, você não vai beber uma cervejinha
enquanto não fizer 18 anos. Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar. Não, você não vai faltar na escola
sem estar doente. Não, essa conversa não é pra você se meter. Não, com isto
você não vai brincar. Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no
parque.

Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS
crescem sem saber que o mundo não é só deles. E aí, no primeiro não que a
vida dá ( e a vida dá muitos ) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam
sem camisinha. Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam
mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.

Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo
contrário. Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um
amor real, sem culpa, tranquilo e livre, conseguem perfeitamente entender
uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor
dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade. E
quem ouve uns nãos de vez em quando também aprende a dizê-los quando é
preciso. Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que
tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que
sejam pessoas que nos amem. O não protege, ensina e prepara.

Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o
meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos
que recebo. Nem sempre consigo, mas tento. Acredito que é aí que está a
verdadeira prova de amor. E é também aí que está a solução para a violência
cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.

(Autor anônimo, recebido por e-mail)

20 outubro, 2008

liberdade excessiva da imprensa

Estimados amigos:

Estou reenviando minha nota de repúdio (leia-se "desabafo") sobre a cobertura macabra da imprensa nos casos da menina jogada pela janela e a adolescente morta pelo namorado.

Acrescentei, no início, uma preciosa observação feita por minha amiga jornalista, que é responsável por jornais paroquiais (São José do Jaguaré e Dom Bosco) e pelo jornal da Arquidiocese de São Paulo (O São Paulo).

Por favor, leiam com atenção a nota de minha amiga antes de ler meu texto. Ambos encontram-se abaixo. Deletei os endereços eletrônicos por questão de privacidade.

Fica aqui minha solidariedade aos jornalistas que são obrigados a fazerem coisas que, tenho certeza, não fariam, se dependessem somente de seus princípios (salvo exceções bem conhecidas do público).

Abraços.

João Cesar.



2008/10/20 elvira freitas <>
Bom dia, João César
Concordo com você, que está havendo, em todos os casos de violência contra menores, abuso por parte da imprensa. Por ter atuado na mídia convencional por cerca de 20 anos, devo deixar aqui algumas colocações:
1º – O profissional de mídia (repórter, principalmente), é apenas um testa de ferro. Ele cumpre ordens de uma direção de jornal que visa apenas o lucro e a superação da concorrência. É a cruel lei de mercado. "Recebeu a pauta, tem de cumpri-la!". Se dá audiência, a "direção" das emissoras (rádios, TVs, jornais, internet etc) manda insistir.
2º Existe sim um código de ética jornalística, só que não funciona, devido ao ítem acima, ou seja, a busca desenfreada do lucro a qualquer custo. Se o profissional quiser cumpri-la, terá de se desvencilhar de qualquer meio de comunicação e trabalhar de forma independente. Quam consegue? Poucos têm a coragem e condições financeiras de buscar na mídia alternativa e comunitária (rádios e boletins paroquiais) uma forma de sobrevivência, como fiz!
Rezemos para que Deus ilumine a cabeça dos empresários de comunicação.
Abraço
Elvira
 
 
--- Em dom, 19/10/08, Joao Cesar > escreveu:
De: Joao Cesar <>
Assunto: liberdade excessiva da imprensa - nota seria
Data: Domingo, 19 de Outubro de 2008, 23:32


Estimados amigos:

Nos últimos meses temos presenciado na imprensa fatos violentos envolvendo menores de idade (menina jogada pela janela e garota sequestrada e morta pelo ex-namorado).

No primeiro caso (menina jogada pela janela), sucederam-se outros casos de crianças que cairam de seus apartamentos. Pergunto: seriam coincidências (não acredito), seria um olhar macabro da imprensa (uma vez com ibope, outras vezes a audiência estaria garantida), ou seria uma escola de ações negativas?????!!!???

No caso mais recente (de Santo André) a imprensa deu ampla cobertura - e o sequestrador, por sua vez, sentiu-se o astro do momento, conseguindo manipular a todos. E o que falar de Sonia Abrão, e da produção do SPTV que conseguiram falar com o sequestrador?

Acredito que, em ambos os casos, a imprensa foi além de seu papel de informar. Explorou os fatos com requintes de crueldade. Pior ainda, transformou os criminosos nos artistas do momento. Pergunto: isto é informar ou por lenha na fogueira da violência?

Estou com nojo da imprensa. Se já tinha por motivos de manipulações políticas, agora tenho por manipulação de vidas, criando oportunidades para que coisas similares ocorram.

Acredito que liberdade de informação é uma coisa muito diferente do que está sendo feito. Defendo um código de ética no jornalismo, urgentemente.

Será que veremos outras brigas de adolescentes sendo transformadas em sequestro, estimuladas pela cobertura doentia desta última?

Honestamente, estou de saco cheio (desculpem-me mas o sentimento é esse mesmo) de uma falsa liberdade de informação. E não adianta criticar aqueles programas jornalisticos do mundo cão, porque todos acabaram aderindo a essa onda, até mesmo os noticiários aparentemente sérios.

Será que eses profissionais também não têm filhos, sobrinhos - e não temem por destinos semelhantes em suas famílias? Vejam o que falavam do garoto-assassino: sem antecedentes criminais, conhecido da famíla da vítima, era acima de qualquer suspeita - exatamente o perfil de muita gente que frequenta as casas de todos nós, inclusive dos profissionais da mídia!

Francamente, onde tudo isso vai parar?

Desculpem-me por esta mensagem, mas o assunto estará - certamente, na boca de todos nesta semana, e eu não poderia de deixar aqui meu parecer antecipado.

Abraços fraternais.

João César Pereira Fernandes
São Paulo (SP).

02 outubro, 2008

Apesar de Você

Este vídeo, montado a partir da música de Chico Buarque, mostra a realidade angustiante vivenciada por diversos educadores pelo Brasil afora, especialmente por aqueles que lecionam comigo.

Não é uma crítica a pessoas (as quais devem ser respeitadas sempre, mesmo que não respeitem), mas a determinadas ATITUDES.

Afinal, o pecador (sujeito) não pode confundido com o pecado (sua ação), como afirmou várias vezes o grande Teólogo Santo Agostinho.

As pessoas que oprimem deveriam pensar que para cada ação, há uma reação. Optei por reagir artisticamente, porque ainda acredito no ser humano e nos princípios democráticos.

Abraços cordiais a todos!

Professor João César
São Paulo - SP - Brasil
(primavera de 2008)

30 agosto, 2008

Presença Educativa

Antes de qualquer outra meta político-pedagogica, deveríamos nos debruçar sobre outra meta: re-humanizar os relacionamentos humanos, não somente dentro do ambiente de aprendizagem, mas também no ambiente de trabalho. Afinal, não se pode tentar aplicar com as novas gerações aquilo que não se vivencia entre nós educadores, mesmo porque a educação se dá mais pelo exemplo do que por belas palavras.

A fim de singela contribuição, forneço a todos os interessados (e, principalmente, aos desinteressados) este breve resumo das páginas citadas na referência bibliográfica mais abaixo, da conferência destinada a uma rede de escolas particulares, aqui transformada em livro, do professor Antônio Carlos Gomes da Costa – que tem uma vasta atuação no campo educacional, dentro e fora do estado dele, Minas Gerais.

Seria interessante a leitura do livro integralmente, mas fica aqui o aperitivo.



PEDAGOGIA DA PRESENÇA

É uma aposta na possibilidade de despertar e desenvolver a juventude, aquela corda sensível no coração do jovem. É uma aposta no “desenvolvimento”.

Quando se observam os três grandes eixos universais da educação – o cognitivo, o emocional e o pragmático; ou razão, sentimento e ação –, se vê que o cognitivo está na docência, o afetivo está na assistência/presença e o pragmático, o nível da ação, está nas práticas e vivências.

O coração da preventividade está na presença. É uma pedagogia da presença. O educador se faz presente na vida do educando. Presença não é sinônimo de estar perto. A presença educativa é uma presença intencional, deliberada. Tem a intenção de exercer no outro uma influência construtiva.


Características dessa presença:



ABERTURA

Não basta estar perto. Nos ambientes de trabalho, nós sabemos disso, as pessoas estão perto, mas cada uma está na sua. Não estão abertas para o outro.

Essa abertura é se deixar penetrar pelo outro. É ter a disposição sadia – olha o que eu estou falando – de penetrar o outro. Às vezes, você vê uma pessoa com o olho ou nariz vermelho e pensa: “Vou ficar quieto”. Agora, se você pergunta: “Fulano, o que está acontecendo?”, não sabe o que pode vir dali como resposta. Aquilo vai lhe penetrar, vai lhe jogar dentro de um problema.

Temos de estar dispostos a ser penetrados pela alegria ou pelo sofrimento, pela dificuldade, pelo contentamento do outro. Eu tenho de me deixar penetrar. Tenho de ter também a disposição de penetrar, porque de outra forma não existe encontro.


RECIPROCIDADE

Reciprocidade é um comércio singelo entre as pessoas. É um comércio de pequenos nadas. Um sorriso, um olhar, um cumprimento, um abraço, uma pergunta, um elogio, um toque, tudo isso são pequenos nadas, mas que podem mudar o ambiente de uma sala de aula, de uma casa de família, de um hospital, de um trabalho.

A reciprocidade é esse troca-troca de pequenos nadas, que são tudo para criar um ambiente de qualidade e de desenvolvimento das pessoas. E quantas vezes sonegamos isso? Quantas vezes esses pequenos nadas que são tudo, nós os sonegamos das pessoas que estão ao nosso redor? Muitas vezes os pais dão tudo, mas não dão os pequenos nadas. O professor dá o melhor ensino, mas também sonega os pequenos nadas.


COMPROMISSO

É aquela coisa – pode ser até ingênuo ficar citando, mas é profundamente verdadeiro – de que você se torna responsável pelo que cativa.

Presença gera responsabilidade. Se você está aberto a uma pessoa, se intercambia com ela, se mantém com ela uma postura de reciprocidade, você não tem mais o direito de ser indiferente para com ela. Por isso, por temor a essa responsabilidade, a gente se mantém fechado, porque sabe que no final se torna, de certa forma, responsável pelo outro.


Essa presença educativa intencional, deliberada, onde um ser humano busca exercer uma influência construtiva sobre o outro ser humano é, ao meu ver o coração da preventividade. É uma condição para o desenvolvimento humano. É uma condição para a pessoa se “des-envolver”, para atualizar seu potencial.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Presença Educativa. São Paulo: Editora Salesiana, 2001. pp26-30.
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