ATENÇÃO: Blog sem vínculos institucionais! Instrumento particular do Professor.

DESTAQUES DO BLOG:

Presença Educativa => Abertura, reciprocidade e compromisso: pilares da Pedagogia da Presença, o resgate do relacionamento humano.

Sobrevivência Docente => Breve histórico da decadência de nossa profissão e algumas dicas para sobreviver - leia o texto inteiro, antes de mais nada.

Bullying => Sugestões de links para tratar desse assunto de forma séria e urgente. Não pode-se ignorar, nem deixar para depois.

Projeto particular PAZ EDUCA (pazeduca.pro.br): O que é || Site || Partes

08 dezembro, 2010

Há 169 anos atrás

Há 169 anos atrás, em 08 de dezembro de 1841, um jovem sacerdote italiano acolhia um adolescente órfão e analfabeto, que tinha sido enxotado pelo sacristão.


Em uma conversa sincera, com um sinal da cruz e uma Ave Maria, iniciou-se uma grande obra educativa, que espalhou-se pelo tempo e espaço, influenciando e mudando a vida de milhões de pessoas. E tudo começou com ACOLHIDA, DIÁLOGO E ORAÇÃO.


Estou falando de Dom Bosco, que na presente data acolheu, dialogou, orou e ensinou o jovem Bartolomeu. Este, trouxe, na semana seguinte, outros em situação semelhante. A estes juntaram-se outros. Eram centenas.


Que belo exemplo esse de Dom Bosco! Deve ser repetido por muitos por este mundo, se quisermos de fato que o jovem seja protagonista.


Aproveito para celebrar também a conclusão de um vídeo, que a direção da escola na qual trabalho, me encomendou, como síntese dos momentos que estivemos juntos à nossos educandos neste primeiro ano da história da nossa escola.


Que Dom Bosco continue a nos iluminar e a dar o exemplo de como educar nossas crianças e nossos adolescentes. De forma simples, mas atuante.


Afinal, prestaremos contas a Deus pelo que fizemos a cada um desses pequenos confiados a nós.


João César

25 novembro, 2010

BRINCADEIRA ≠ BULLYING

BRINCADEIRA ≠ BULLYING
BRINCADEIRA  BULLYING
BRINCADEIRA: 
- Todos se divertem do mesmo jeito.
- Ninguém se diverte com prejuízo ao outro.
BULLYING:
- A diversão de um prejudica o outro.
- Provocar, ameaçar, pegar as coisas dos outros, ofender, agredir, invadir espaço e privacidade.
O QUE ACONTECE COM OS ENVOLVIDOS:
1)Conversa com os envolvidos.
2)Conversa com os familiares.
Nessas duas etapas, 70% dos problemas são resolvidos.
Palavras chaves: diálogo, respeito.
Nos 30% não resolvidos, autoridades externas ao ambiente escolar tomam as decisões, na forma da lei:
3)Medidas socioeducativas (acompanhamento psicológico, médico, social, pedagógico e jurídico aos envolvidos e familiares).
4)Prestação de serviços comunitários.
5)Internação ou Liberdade Assistida.
E ai, o que você prefere?
A decisão é tua!
Proposta de leitura compartilhada:
“Bela”, de Julio Emilio Braz (Paulinas Editora). Narra a história de uma garota que era admirada por muitos e invejada por alguns. Como era constantemente provocada por uma colega invejosa e a tragédia que ocorreu por causa dessas provocações.


Colaboração de Professor João César.

31 outubro, 2010

Educação Laica versão exotérica

O tema deste meu texto é isso mesmo, por mais incoerente que pareça: "Educação Laica versão exotérica". Incoerente é a realidade na qual vivemos!


Todos nós sabemos que a Educação Escolar é laica, para que as diversas crenças e descrenças que existem em nosso rico pluralismo cultural sejam devidamente respeitadas. Em nome desse laicismo há aqueles que são extremamente radicais a ponto de verem algo religioso em tudo e, por isso, merecedor de punição. Só não veem indícios de religiosidade subliminar em festas importadas (como o Dia das Bruxas, no lugar de nosso Dia do Saci) e filmes com bruxinhas adolescentes (minha turma no C.E.U já assistiu a, pelo menos dois, em cerca de três meses: "Bruxinha Bibi 2" e "Lilli e o Dragãozinho").


Quer dizer: a religiosidade da maioria não pode ser manifestada em ambiente laico, mas a de determinados grupinhos pode, por meio de atitudes subliminares. Isso é correto?


Se me disserem que essas festas e filmes têm uma mensagem positiva a ser disseminada, concordo plenamente. Mas, e as outras expressões religiosas, também não tem algo positivo? Por que certas preferências? 


Deixo bem claro que sou  favor da Educação Laica, exatamente porque acredito que, assim sendo, a religiosidade de cada um pode ser respeitada - vivemos em uma sociedade de grande pluralismo cultural. Mas sou contra a essas imposições subliminares que são impostas a todos, em um ambiente que deveria ser laico.


Questão a ser pensada e debatida com racionalidade, sem paixões e radicalismos. Mas com atenção suficiente para questionar porque certa "cultura religiosa" pode estar presente por meio de festividades descontextualizadas e filmes bonitinhos.


Professor João Cesar

14 outubro, 2010

Como vai, colega educador?

Como vai, colega educador?


Parece uma pergunta tola, mas não é!

Olhe para dentro de você, seja sincero. 


Vou começar respondendo por mim, ai você fica mais à vontade, certo?


Bem mesmo, não ando, mas poderia ser pior. Não sou otimista, nem pessimista, mas realista. 


Quando escolhi esta profissão, tinha 14 anos de idade, estava na oitava série e fui convencido a mudar de caminho, pois em 1989 o negócio já não estava assim tão bom. Quando conclui o antigo Magistério, mais críticas e conversas para eu desistir. Todos ficaram horrorizados quando comecei a lecionar. "Com tanto futuro, esse ai poderia ser jornalista, escritor, advogado ou padre", diziam. De fato, tenho tendências a tudo isso, mas não é porque a profissão não anda bem que eu não vou insistir nela. Sou professor, essa é a minha escolha!


Mais de uma década que estou na ativa, tive muitas oportunidades de pular fora, e não pulei, nem pretendo pular. Já passei por muitas dificuldades, ameaças, até mesmo atentados, mas não pulo fora por nada!


O leitor deve pensar: "esse ai é doido mesmo!" Respondo que nada disso, apenas fortaleço-me diariamente das seguintes formas:


a) Consciência história: sei que minha profissão foi melhor valorizada no passado, que meus antecessores foram abrindo mão de vários direitos em nome de não sei o quê. Na medida do possível deixo claro que não abro mão dos direitos que ainda sobraram, doa a quem doer!


b) Objetivo bem claro: tenho consciência de que não mudo o mundo com meu trabalho docente, nem aos outros, mas posso estabelecer uma troca saudável entre eu e o outro. O outro me enriquece e eu enriqueço o outro; faço-me presente nele, e ele em mim; enfim, participamos das conquistas e derrotas mutuamente, somos parceiros de caminhada. E no caso da criança, essa caminhada dá-se de forma lúdica, a alfabetização e a formação do conhecimento podem ser uma "brincadeira" a mais em nossas vidas. Pelo menos, até agora, tem dado resultados e nenhuma quinquilharia que tentam impor desvia-me deste rumo, que não é meu, mas nosso.



c) Vínculo Comunitário: Há mais de quinze anos trabalho com a mesma comunidade. No começo foi muito difícil. Como em todos os lugares, há seus pontos positivos e seus pontos a melhorar. Em uma comunidade periférica, onde mais da metade da população está abaixo dos 30 anos de idade, com perfil de alta vulnerabilidade social, o negócio é pior. Mas pessoas que mostraram muito carinho para com essa Comunidade serviram-me de exemplo a persistir. E deu certo. A Comunidade não mudou (até parece que piorou), mas os vínculos estão fortes. As vezes ficar na porta da escola dando um sorriso àquela mãe carrancuda pode fazer a diferença, pode desarmar uma bomba; entrar numa rodinha de conversa ou de brincadeiras dos alunos e mostrar interesse por isso, pode fazer uma diferença enorme; encontrar com esse aluno ou sua família na rua ou no ônibus e perguntar sinceramente se estão bem, desamarra caras fechadas e sombrias. Não soluciona problemas, mas impede a criação de novos e pode até mesmo diminuir os existentes. Palavra chave: diálogo!



d) Espiritualidade: cuidar de meu relacionamento comigo e com os outros é uma questão de espiritualidade. Como me vejo? Como vejo o mundo? Isto não depende, necessariamente, de Religião, mas de como relaciono-me comigo, com os outros e com o transcendente. Tem coisa que a Ciência não consegue explicar de forma satisfatória como, por exemplo, o relacionamento professor-aluno (tentam, mas as respostas possíveis e atuais, não me satisfazem). Isso é o que chamo de Transcendente, aquilo que não está em mim, nem no outro, mas no caminho entre nós. Este ponto é vital, sem o qual nada é possível: posso ter ótimos livros, ótimos computadores, mas se não interajo com o aluno, ajudado por esses meios, não acontece nada! Cuidar de minha espiritualidade é aguçar meu olhar para aquilo que não se vê, é curtir uma música, um filme, um livro, é revigorar minhas energias. E isso, por mais que neguem, é real, é fato. A sabedoria popular diz que "saco vazio não para em pé". Não sou saco vazio, tenho algo dentro e preciso cuidar desse algo.



Enfim, amigo educador, vou terminando aqui, pois a conversa já está longa.


Agora é sua vez. Como anda sua consciência sobre a profissão, anda abrindo mão de muita coisa sem clareza? Seu objetivo é claro e você elimina as quinquilharias que tentam afastar dele? Como é seu vínculo comunitário? - lembre-se de que, às vezes, é preciso abrir mão de algo para conquistar coisas maiores (o mar, em sua imensidão, abaixa-se para receber as águas dos rios). Como anda sua espiritualidade, seu interior? E sua privacidade: você mostra aos outros até que ponto podem chegar com você e vice versa? Eu faço isso, para evitar que mundos tão ricos se invadam e se anulem!


Pense bem antes de responder-me. Não aceito resposta escrita, quero olhar em seus olhos, sentir cada palavra que me falar. Afinal, o corpo e o olhar falam mais do que mil palavras.


Abraços e feliz dia dos professores a todos nós!


 João César

11 outubro, 2010

Dia da criança ou criança todo dia?

DIA DA CRIANÇA OU CRIANÇA TODO DIA?



Infelizmente, há datas que têm sua finalidade deturpada pelas pessoas. Assim é o dia da criança. Fala-se muito da criança, dá-se muitos presentes, mas no resto do ano, as pessoas não se fazem presente na vida das crianças.



Muitas crianças gostariam, ao invés de um presente uma vez por ano, que as pessoas estivessem presentes em suas vidas diariamente. E não venha justificar-se com a correria do dia a dia, pois presença não se faz somente pelo tempo dedicado (quantidade), mas pela intensidade (qualidade) do tempo em que se dedica a alguém.



Isso lembra aquela história do pai que nunca tinha tempo para seu filho, pois era um mártir do trabalho, a fim de dar a família condições dignas de vida. Mas toda noite passava pela cama do filho, acariciava-o, dizia-lhes umas palavras afetuosas e deixava um nó no lençol, como prova de que esteve ali por alguns segundos.



Também lembro-me de um fato recente (julho de 2010), ocorrido com uma aluna minha, na formatura do PROERD: seu pai, caminhoneiro, trouxe a filha até a porta da escola, abraçou-a profundamente, disse ter muito orgulho dela, mas que não daria para ficar na formatura, pois tinha que descarregar o caminhão. Esse pai disse também que a mãe da menina, já falecida, com certeza estava muito orgulhosa, vendo tudo do céu. Essa menina, sorridente e alegre, sempre tem seus pais presentes em seu coração. Por isso mesmo é uma aluna que se destaca no aprendizado e no comportamento, como outros também.



Nestes mais de dezesseis anos de docência, tive várias  outras experiências de pais e mães que poderia argumentar que não tinham tempo a seus filhos (e não tinham mesmo, se levarmos em conta o tempo cronológico), mas davam o máximo de si: mães analfabetas que reservavam alguns segundos suados para ver os cadernos dos filhos e fazer elogios aos progressos que viam e sentiam ali, mesmo não sendo capazes de ler o que estava escrito; pais que, mesmo cansados do trabalho, eram capazes de beijar a mulher e os filhos, que não tinham dinheiro para dar presentes, mas estavam presentes.



Preferi dar esses exemplos positivos, mas quero lembrar também daqueles pais que nunca estão presentes, mas fazem questão de encher os filhos de presentes e nunca dão-lhes uma palavrinha de carinho, nem uma correção afetuosa quando os filhos erram; aqueles que são apenas motoristas, levando a criança à escola ou catequese, e nunca se preocupam em perguntar aos educadores como suas crianças estão; aqueles que renegam a criança na frente de todos, como se ela fosse consequência de um aborto mal sucedido - infelizmente, atendo vários casos assim onde leciono.


O extremo dessa omissão toda também é prejudicial, como aqueles que querem corrigir os filhos de qualquer modo, inclusive humilhando-os ou espancando-os, quando não explorando ou abusando;ou formas mais sutis, como a superproteção, que tira a iniciativa da criança em agir. Tudo isso – omissão e certas ações, são formas de negligência, de crueldade.



E o que falar daquele tipo que só visita a criança (tanto em seu lar, como no orfanato), somente no dia 12 de outubro? Ou que percorre as ruas, nessa mesma data, distribuindo presentes e guloseimas, mas nos outros dias faz questão de cuidar bem de seu “totó” e gritar em altos brados “morte e cadeia aos menores abandonados”?



Em meio a tudo isso fico muito feliz com iniciativas de pessoas e entidades que tratam da criança o ano todo. Os padres Rosalvinos, Robertos, Julios – e tantos outros, que estão ali, com as crianças diariamente, em suas necessidades, fazendo-se presença viva e atuante, muito mais do que pais. E também os pais que citei anonimamente no incio deste texto. De pessoas assim, presentes o ano inteiro, verdadeiros presentes na vida das crianças.


E termino dedicando um carinho especial à todas as crianças que nestes  mais de dezesseis anos de Educador passaram por mim (e as que passam, e aquelas que passarão), sobretudo as mais problemáticas, com seu jeito de gritar por socorro. Agradeço a Deus por colocá-las em meu caminho, pois tenho consciência de que estou servido a Ele nelas.



Que Deus continue dando-me forças para que eu seja capaz de fazer a diferença na vida das crianças, diariamente, e não somente no dia 12 de outubro. Bênçãos também a eles, meus colegas educadores (inúmeros e anônimos) que dedicam-se às crianças. E, claro, bênçãos também aos inúmeros Rosalvinos, Robertos e Júlios que me mostram que o caminho é a Educação.



Minha gratidão a todos!


João César
12 de outubro de 2010.
http://pazeduca.pro.br/profjoao

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Breves notas explicativas, de nomes citados no texto:


"Roberto": Referência ao padre Roberto, da Congregação de Santa Cruz, (família religiosa fundada pelo padre Moreau, conhecida em São Paulo pelo colégio de mesmo nome) que mantém vários núcleos socio-educativos no bairro do Jaguaré, atendendo aproximadamente 800 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.




"Rosalvino": Padre Rosalvino, sacerdote salesiano (congregação fundada por Dom Bosco) que possui um enorme e belíssimo trabalho sócio-educativo no bairro de Itaquera.




"Júlio": Padre Júlio Lancelotti, atuante junto a menores abandonados, crianças aidéticas e moradores de rua, por isso mesmo invejado e perseguido por muitos. Atua sobretudo na zona leste paulistana.

20 setembro, 2010

Problema de todos?

Alguém já disse, certa vez, que o maior inimigo do professor é o próprio professor. Não concordo com isso, pois há quem ainda se preocupe com o outro. São os verdadeiros educadores: não metem a cabeça na areia, como avestruz, dizendo que o problema não lhe diz respeito, problema esse que poderia acontecer consigo.

Mas não posso negar que existe o tipo que pensa estar imune aos problemas do colega e prefere isolar-se do que somar forças em resolver um problema que, cedo ou tarde, poderá afetar-lhe exatamente porque acha que sua turma está posta sob uma redoma, imune aos problemas que afetam toda escola.

A esse tipo ofereço o conhecido texto abaixo:



Um rato, olhando pelo buraco na parede, viu o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo em que tipo de comida poderia ter ali. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira. Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos:


– Tem uma ratoeira na casa, tem uma ratoeira na casa.
       
A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse: 
– Desculpe-me, senhor Rato, eu entendo que é um grande problema para o senhor,mas não me prejudica em nada, não me incomoda.
       
O rato foi até o porco e disse-lhe:
       
– Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira.
       
– Desculpe-me senhor Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranquilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.
       
O rato dirigiu-se, então à vaca. Ela disse:
       
– O que, senhor Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!
       
O rato, então, voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.
       
Naquela noite, ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pegado. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou a a cauda de uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher.
       
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que, para alimentar alguém como febre, nada melhor que uma canja. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.
       
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.
       
A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro, então, sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo.
       
Por isso, da próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se de que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.


do livro: "As mais belas parábolas de todos os tempos vol. II"
Alexandre Rangel (org.)
Editora Leitura.

05 setembro, 2010

Disciplina

Viver em sociedade pressupõe uma série de coisas, dentre as quais, saber conviver com o outro, respeitando-o da mesma forma que gostaria de ser respeitado. E, para haver esse respeito mútuo, existem as regras de convivência.

Para que as regras de convivência sejam respeitadas por todos deve-se haver disciplina, que não deve ser confundida com medo, terror. Pois quem tem medo, respeita somente sob pressão; ausente a situação que impõe medo, já deixa de respeitar. Disciplina é algo que vai além, cria condições de organização e observância, de tal forma que o respeito ocorre independente da situação.

Deve haver disciplina em tudo na vida: no trabalho, na vida de fé, no lazer e em todos os ambientes dos quais participamos. Sem disciplina, há bagunça e desrespeito: faz-se somente o que quer e como quer, independente de prejudicar ou não os outros.

Quem ama educa, quem educa põe disciplina. Há pouco, cheguei da Missa Dominical em uma comunidade vizinha, na qual o Padre falava sobre a disciplina na fé (usando exatamente essa diferenciação entre disciplina e medo, que expus acima), uma vez que o Evangelho desta Missa (Lucas 14, 25-33) trata dos critérios que devemos ter em disciplinar nossa vida de fé, elegendo prioridades e planejamentos. Não sei se é porque havia criança barulhenta na porta da igreja, o Padre, ótimo pedagogo (como muitos o são em sua família religiosa) citou o exemplo da disciplina da criança, contando o caso de uma menina pequena que corria por uma loja e respondeu de forma grosseira à bronca de sua mãe. Concluiu o jovem pároco que se não pusermos disciplina em nossos filhos estaremos criando e alimentando monstrinhos, pois amar é educar, é mostrar limites, é disciplinar.

Fiquei pensando nas palavras desse sacerdote, comparando à situações de tantas crianças e adolescentes. Será que eles têm quem, de fato, os ame, a ponto de mostrar-lhes limites, disciplina? Ou será que, em nome de um falso amor, que tem medo de magoar, tolera tudo, sem disciplina? Foi sobre esse falso amor, que tem medo de magoar, criar traumas, que o padre também tratou em sua homilia.

Deus nos ama, cuida de nós, nos educa. E nós, amamos nossos jovens, a ponto de educa-los também?!? Ou é mais fácil deixá-los crescer sem limites e lamentarmos sua sorte depois, dizendo que os jovens de hoje não prestam?

12 agosto, 2010

Cumprir e Negociar

Recentemente postei em meu Twitter uma frase que falo sempre aos alunos: "Obrigação não se negocia, se cumpre. Outras coisas podemos negociar".

O que é obrigação se cumpre e pronto: o professor deve dar aula, o aluno deve participar adequadamente da aula, a família deve fornecer o sustento material dos filhos etc. É fazer sem discutir. Não existe negociação.

Por que coloco isso e dessa forma? Porque tenho alguns alunos (daquele tipo que existe em qualquer turma) que jogam na cara que fizeram a lição e, por isso, sentem-se no direito de fazer o que querem e da forma que querem. 

Eu coloco para eles que fazer a lição é seu dever, nada mais do que isso, da mesma forma que é meu dever dar aula e é dever da mãe dar-lhe comida. Será que eles ficariam satisfeitos se a mãe lhe dissesse para voltar amanhã para comer, ou condicionasse a comida a algo?

Já o que não é obrigação podemos negociar como, por exemplo, fazer uma brincadeira tranquila ao terminar o dever ou ler um livro - isso posso deixar a critério do aluno, posso negociar com ele. E, para quem acredita que, nesse exemplo, ninguém escolheria ler um livro, está muito enganado. Se muitos optam pela brincadeira, um número semelhante opta pela leitura! Agora, optar por fazer ou não seus deveres, respeitar ou não os outros que compartilham o mesmo ambiente de aprendizagem, isso não permito em nenhuma circunstância.


É uma questão de limite, de responsabilidade, de cidadania. Afinal, o que queremos formar socialmente? Já não chegam os contraexemplos no campo da política e do futebol que pipocam aqui e ali?!

E quanto aos direitos? Tenho espalhado pelas paredes da classe um breve resumo dos direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (veja abaixo). Ao invés de ficar lamentando e combatendo essa lei, adotei-a como minha aliada, ao deixar claro que são direitos de todas as crianças e de todos os adolescente, não somente de um, uma vez que não existe classe formada somente por um aluno e que o aluno existe como tal fazendo parte de um agrupamento - ai volta a questão inicial, de que ninguém é mais ou menos importante do que o outro a ponto de querer negociar o que é sua obrigação.


Prof. João César
Agosto de 2010

Direitos e Deveres de Crianças e Adolescentes

13 julho, 2010

Comunico-me, portanto, existo

O ser humano é o ser da comunicação. Existimos a partir do que comunicamos. E a comunicação vai muito além das palavras: somos capazes de comunicarmos pelo nosso corpo, pelas nossas atitudes.

Nas escolas fala-se muito em habilidades e conteúdos a serem trabalhados. E eles são cobrados por meio de avaliações institucionais (Prova Brasil, Prova São Paulo, Prova da Cidade, Saresp, Enem e uma infinidade de instrumentos). Cobram-se elementos que toda escola deveria trabalhar, mas esquece-se que, antes de conteúdos, deveríamos trabalhar capacidades comunicativas. Como podemos cobrar a mesma coisa de alunos que passam por situações diversas: aqueles que têm quem lhes eduque em família e aqueles que têm que se virar sozinho; aqueles que estão em condições propícias e aqueles que estão muito atrás do processo (inclusão); aqueles que têm uma escala de valores e os que ainda não a tem; aqueles que são providos no lar (encaram a escola como provedora de conhecimentos) e os que são desprovidos de tudo (e encaram a escola como provedora do que lhes é negado no lar). Não está faltando aprimorar a capacidade comunicativa das pessoas e das instituições?!? O discurso "educação para todos" não está encobrindo uma falha comunicativa entre os envolvidos no processo?!?


Nos meios de comunicação social (TV, rádio, teatro, internet etc) fala-se muito em formar consciências, em informar as pessoas de forma imparcial, neutra. Mas uma informação parcial, que enfoca apenas um lado da questão, que mostra somente o que determina quem tem um suposto poder, está informando ou deformando?!? Mostrar somente o lado negativo da vida, enfatizando-o, e ignorar fatos positivos ou as diversas versões de um mesmo fato, é comunicar?!? Enfim, eles informar e formam, ou deformam mentes? Geram consciência ou criam opiniões parciais? Comunicam o quê?


Nas Igrejas, em especial, na Igreja Católica, fala-se muito em Pastoral da Comunicação, como se esta fosse uma novidade a ser empregada. Mas se na Igreja há uma comunicação eficiente entre seus membros, entre seus diversos grupos e comunidades, a Pastoral da Comunicação não precisa ser formada, exatamente porque ela já existe! Precisamos apenas fortalecer a comunicação que ai existe, sobretudo aquela comunicação do olhar, da postura corporal, da acolhida. Tudo o mais será consequência.


Em todas as instituições (escola, família, igreja etc), há uma tendência muito forte em se enfatizar os meios, como se estes fossem soluções comunicativas. De nada adianta eu ter uma emissora de TV ou rárdio, um auditório ou um site, se eles são instrumentos que se esgotam em si. Quantas peças teatrais, quantos livros, quantos programas e sites conhecemos e que não retratam nada do que é vivenciado nessas instituições. Faça-se um levantamento de, por exemplo, quantos sites que estão no ar, estão, de fato, com informações atualizadas (verifique-se isto, por exemplo, nos sites que pretendem representar alguma igreja ou movimento social).


Um instrumento deve revelar o fruto do processo comunicativo que há na instituição promotora dele. Uma prova institucional terá seus resultados (as tais das proficiências, tão cobradas por gestores) reais se o processo educativo da escola acontecer de forma comunicativa e dialógica. Um programa televisivo ou radiofônico formará consciências se os seus detentores forem capazes de comunicar de forma integral, não parcial. Um site será eficiente se for fruto de processos comunicativos entre os integrantes da instituição que é revelada por ele.


Sem cuidados básicos, o ser humano não comunica nada. Apenas mascara realidades, deforma, aliena. E ninguém está vacinado contra este mal, nem deve ficar acusando os outros pelos insucessos, uma vez que conquistas e derrotas não são individuais, mas coletivas. Veja-se o exemplo de um time de futebol: uma vitória ou uma derrota é de todos, desde os atletas que suaram a camisa em campo, como de seus treinadores e dirigentes.

Está na hora, se é que não se passou, de pararmos tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) e avaliarmos nossas capacidades comunicativas. Sem isso, estaremos construindo nossa ruina, por ação ou omissão. Esse é o preço de sermos seres sociais, comunicativos, dependentes uns dos outros.

Professor João César
Julho de 2010
http://pazeduca.pro.br/contato

Julho de 2010
http://pazeduca.pro.br/contato

OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA:

1) Antes que criem mal entendido com algumas colocações minhas, já adianto que não sou contra a diversidade em sala de aula, nem às avaliações institucionais (segundo parágrafo de meu texto), mas sou favorável a uma flexibilização inexistente nas avaliações. Afinal, não podemos nivelar educandos com necessidades diversas, isso é um crime e depõe contra todas as conquistas inclusivas. Aliás, sou tão favorável à inclusão que, há mais de 10 anos atrás, fui uns dos primeiros professores a ter em sala de aula um aluno com paralisia cerebral. Recentemente comentáva com meu Coordenador Pedagógico que meu quarto ano tem uma riqueza imensa, uma vez que há grande diversidade na faixa etária. Isso tudo atesta que sou favorável à inclusão, desde que a mesma ocorra de verdade, não somente de forma poética.

2) Quanto a questão da mídia parcial, conheço jornalistas que são íntegros e não compactuam com  essa deformidade que certos meios de comunicação tentam impor sobre a população.

3) Também não combato a Pastoral da Comunicação. Apenas elucido que ela é fruto de um processo comunicativo maduro, que nossas pastorais católicas não estão sabendo ter. Haja visto o numero de pessoas que não se sentem acolhidas em suas necessidades em nossas comunidades.

28 junho, 2010

Poder publico intromete-se na festa popular negativamente

Quais as consequências da intromissão do poder público na alegria popular?

Aqui em São Paulo, pela segunda vez consecutiva na história das Copas do Mundo, a prefeitura municipal optou, via decreto, interromper o expediente nas repartições públicas nos momentos dos jogos da seleção brasileira.

Por trás de uma decisão aparentemente democrática e popular esconde-se uma intromissão doentia do poder público sobre a vida privada das pessoas, tanto usuários, como trabalhadores do serviço público municipal. Em nome de uma paixão nacional, para-se a vida de muitos e impõe-se uma reposição posterior dessas horas trabalhadas.

Reza o decreto que o servidor público deverá repor as horas não trabalhadas. Mas ninguém perguntou a esse mesmo servidor se ele estava disposto a parar de trabalhar para repor depois. No caso de muitas escolas municipais, essa reposição significa sacrificar os sábados, com seus compromissos e vida privada.

Por quê não se optou por ver os jogos no próprio local de trabalho, como fazíamos anteriormente? Do ponto de vista das escolas era algo bem melhor, tanto do ponto de vista pessoal (sem sacrificar fim de semana e vida privada) como pedagógico (assistia-se coletivamente aos jogos, com possibilidade de trabalho pedagógico das partidas). 

Isso mexe com a vida do servidor e com a vida da população que deveria ser adequadamente atendida. Com a palavra, a gestão que se diz democrática, mas não consulta aos interessados: servidores e servidos.

26 junho, 2010

Comunidade Viva - Vinculos Educativos

Neste sábado, 26 de junho de 2010 foi reposta, no CEU EMEF Jaguaré, a aula do dia 25/06/2010, por ocasião do Jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo (aula suspensa conforme determinação, via decreto, do Sr. Prefeito). Mais do que reposição, tivemos um lindo exemplo de construção e fortalecimento de vínculos dos alunos para com a Escola (e vice versa).

Alunos de quinta a oitava série participaram de um campeonato - antes das 08 horas da manhã já esperavam ansiosamente na portaria do CEU.

Alunos de primeira a quarta série participaram de uma animada caça ao tesouro, buscando de forma participativa e colaborativa (pequenos e grandes juntos) pelas pistas. Vibravam a cada pista descoberta e, sobretudo, quando acharam a chave que abre o cofre do tesouro. Compatilharam de dois tesouros: o da colaboração e participação (ao buscarem pelas pistas) e o tesouro que estava dentro do cofre (balas e pirulitos). Terminada a caça ao tesouro, todos puderam brincar alegremente no pátio, junto com os colegas e educadores.

Isto tudo fortalece os vinculo entre Comunidade e Escola, atualizando a prática de um grande educador do século XIX, o qual antecipou muita coisa que ainda ensaiamos em pleno século XXI:

"Que os jovens não sejam amados, mas que eles próprios saibam que são amados... Que, sendo amados nas coisas que lhe agradam, aprendam a ver o amor nas coisas que naturalmente pouco lhe agradam..." 
(João Melchior Bosco, conhecido por Dom Bosco - leia seu testamento espiritual e pedagógico em uma de suas cartas, disponibilizada no link: http://pazeduca.pro.br/dombosco/?page_id=48).


13 junho, 2010

Comunidade Viva - Festa Junina no CEU Jaguare

FESTA JUNINA NO CEU JAGUARÉ
Para qualquer pessoa pode parecer mais uma das diversas festas juninas que ocorrem pelo bairro. Mas para quem participou o significado pode ser outro, mesmo que não se dê conta em um primeiro momento.
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Comentei com meus alunos ao longo da semana que essa festa junina é um marco em nossas vidas, uma vez é rara a oportunidade de se estar presente a primeira festa junina de uma escola. A princípio não se tem uma noção clara disso, mas com o passar dos anos poderemos lembrar de que participamos dessa primeira festa da escola. Basta perguntar para os mais adiantados em idade se tiveram oportunidade de inaugurar e participar das primeiras atividades da escola na qual estudaram.
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Por ser primeira festa e, por ocorrer em mesma data de outras no bairro, a presença do público foi significativa. Fiz questão de chegar bem antes do meu horário de trabalho para ter a oportunidade de filmar, fotografar e interagir com as pessoas (tudo devidamente autorizado por meus superiores hierárquicos). Vi muita alegria e tranquilidade em todos os rostos. Parei para conversar com muita gente conhecida:  desde alunos, ex alunos e respectivos familiares até mesmo com um senhor da melhor idade que me contou detalhes dos prédios industriais do entorno. E repito: em todos os rostos via-se claramente tranquilidade e alegria.
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Por meio desses contatos pessoais informais é que me dei conta daquilo que falei sobre o marco histórico. Ao coletar imagens me dei conta de que todos ali naquele ambiente estavam participado na escrita da história desse importante equipamento.
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Mesmo que alguns números de danças estivessem quase comprometidos pelo não comparecimento de muitos que tinham ensaiado anteriormente, nada apagou o brilho desse primeira festa. Vibrei muito com a apresentação de meus alunos, mas também com todas as apresentações do restante da escola. Fiquei petrificado e emocionado com as apresentações dos pequenos das outras duas escolas que formam o CEU (a Emei e o Cei), bem como com a plateia ali presente (em sua maioria, formada por pais, mães e avós corujas).
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Acredito que o pontapé inicial de intercâmbio com a comunidade do entorno foi dado - e muito bem dado. Precisamos agora manter essa bola em nossos pés a fim de marcarmos um brilhante gol na medida em que a comunidade perceba que estamos trabalhando com eles, e não para eles - nesse momento muitas das dificuldades que encontramos desaparecerão.
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Enfim, sinto-me orgulhoso e muito emocionado por estar presente nesse momento impar de nossa história. Sinto-me principalmente na responsabilidade de colaborar com esse gol que citei acima.
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Meus agradecimentos a todos que estiveram envolvidos com tudo isso. Especialmente agradeço a Professora Telma, minha estimada amiga aposentada, que não mediu esforços em seu trabalho voluntário de ensaiar vários de nossos alunos. Somente Deus é capaz de pagar devidamente a todos os que contribuíram para acender os sorrisos de nossas crianças.
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Abraços fraternais a todos!
João César
junho de 2010.

07 junho, 2010

Stop Estupidez


STOP ESTUPIDEZ
Elias Muniz



Às vezes eu fico pensando
O que será da gente
Nas mãos desses homens
Que nem parecem gente
Êta mundo velho
Mundo complicado

 
Preferem apostar nas guerras
Parece doença
Tá sobrando ódio
Falta consciência
Êta mundo louco
Mundo atrapalhado

 
Quantos bilhões que são desperdiçados
Destruindo tantas vidas inocentes
Em vez de usá-los no combate ao câncer
No combate à fome de tanta gente
Eu me pergunto o que será que falta
Pro homem acordar de vez
O amor grita
Stop estupidez

 
Paz, precisamos de paz
O mundo está carente de paz
E mais humanidade
Luz, precisamos de luz
O mundo está sedento de luz
E solidariedade
Stop estupidez
Chega de maldade.

Interpretação: Grupo ir ao povo

03 junho, 2010

PROFESSOR - UMA ESPECIE EM EXTINÇÃO



PROFESSOR - UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

 Por Verônica Dutenkefer (20/06/2009)


Esse texto que escrevo precisamente agora é mais um desabafo.

Desabafo de uma profissional que está lecionando há mais de 22 anos e que não sabe se sobreviverá por mais dez anos,  que é o tempo que ainda precisarei trabalhar (por mais que ame muito o que faço).

Trago muitas perguntas que não querem calar. E talvez a mais inquietante é: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país?

Constantemente ouço ou leio reportagens com as autoridades educacionais proclamarem a má formação de seus professores. Culpando as universidades, a falta de cursos de formação e culpando-nos evidentemente.

Se a educação neste país não vai bem só existe um culpado: o professor.

E aí vem meus questionamentos:

Como um professor de escola pública pode fazer o seu trabalho se ele precisa ficar constantemente parando sua aula para separar a briga entre os alunos, socorrer seu aluno que foi ferido por outro aluno, planejar várias aulas para se trabalhar os bons hábitos na tentativa vã de se formar cidadãos mais conscientes e de melhor caráter?

Nos cursos de formação nos é passado constantemente a recusa de um programa tradicional e conteudista, mas nossas avaliações de desempenho das escolas, nossos vestibulares e concursos públicos ainda são tradicionais e  nos cobra o conteúdo de cada disciplina.

Como pode num país....num estado...num município haver regras tão diferentes entre a rede particular e pública?

Na rede particular as escolas continuam conteudistas, há a seriação com reprovação, a escola pode suspender ou até mesmo expulsar um aluno que não esteja respeitando as regras daquela instituição.

A rede pública vive mudando o enfoque pedagógico (de acordo com o partido que ganhou as eleições), é cobrado cada vez menos do aluno, não se pode fazer absolutamente nada com um aluno indisciplinado que até mesmo coloca em risco a segurança de outros alunos e funcionários daquela instituição.

Dia a dia...minuto a minuto... os professores são alvos de agressões verbais e até mesmo física pelos alunos. A cada dia somos submetidos a níveis de stress insuportáveis para um ser humano.

Temos que dar conta do conteúdo a ser ensinado + sermos responsáveis pela segurança física de nossos alunos + sermos médicos + enfermeiros + psicólogos + assistentes sociais + dentistas + psiquiatras + mãe + pai ......

E quando ameaçados de morte e recorremos a uma delegacia pra fazer um boletim de ocorrência ouvimos: "Isto não vai adiantar nada!"

Meus bons alunos presenciam o mal aluno fazendo tudo o que não pode ser feito e não acontecendo nada com ele. É o exemplo da impunidade desde a infância.

Meus bons alunos presenciam que o aluno que não fez absolutamente nada durante o ano, passou de ano como ele, que se esforçou e foi responsável.

Houve um ano que eu tinha um aluno que era muito bom. E ele começou a faltar muito e ir mal na escola. Os colegas diziam que ele ficava empinando pipa ao invés de ir pra escola. Um dia, tive uma conversa com ele, e perguntei o que estava acontecendo? E ele me disse: "Prá que eu vou vir prá escola se eu vou passar de ano mesmo assim?"

Então eu procurei aconselhar (como faço com meus alunos até hoje) que ele devia frequentar a escola, não para tirar notas boas nas provas ou passar de ano. Ele deveria vir a escola para aumentar seu conhecimento que é o único bem que ninguém poderá roubar.Que a escola iria ajudá-lo a aprender e trocar conhecimentos com os outros e ajudá-lo a dar uma melhor formação na vida.

Depois dessa conversa ele não faltou mais tanto...mas nunca mais voltou a ser o excelente aluno que era.

Qual a motivação de ser bom aluno hoje em dia?

Seus ídolos são jogadores de futebol que não falam o português corretamente e que não hesitam em agredir seus colegas jogadores e até mesmo os árbitros. Ensinando que não é necessário haver respeito as autoridades e aos outros.

Ou são dançarinas que mostram seu corpo rebolando na televisão e pousando nuas para ganhar dinheiro.

 Para quê eu me matar de estudar se há tantas profissões que não são valorizadas e nem respeitadas?

Conheci (e ainda conheço e convivo) ao longo de minha carreira na escola pública, inúmeros profissionais maravilhosos. Pessoas que amam a sua profissão, que se preocupam com seus alunos, que fazem trabalhos excepcionais. Que possuem um conhecimento e formação excelentes, mas que estão desgastados e quase arrasados diante da atual situação educacional.

Li a poucos dias num artigo que os cursos de filosofia, matemática, química, biologia e outros,  todos ligados a área de magistério, não estão tendo procura nas universidades.

Lógico!Quem é que quer ser professor?

Quem é que quer entrar numa carreira que está sendo extinta, não só pela total desvalorização e desrespeito, mas também pela falta de segurança que estamos enfrentando nas escolas.

Fiquei indignada com uma reportagem na TV (que aliás adora fazer reportagens sensacionalistas colocando o professor sempre como vilão da história) em que relatava que numa escola um aluno ameaçava os outros com um revólver e num determinado momento o repórter perguntou:"Onde estava o professor que não viu isso??!!"

E agora eu pergunto: "O que se espera de um professor (ou de qualquer ser humano), que se faça com uma arma apontada pra você ou pra outro ser humano??? Ah...já sei...o professor deveria enfrentar as balas do revólver!!!! Claro!!! As universidades e os cursos de aperfeiçoamento de professores não estão nos ensinando isso.

Vocês tem conhecimento de como os professores de nosso país estão adoecendo????

Vocês sabem o que é enfrentar o stress que a violência moral e física tem nos submetido dia a dia?

Você sabe o que é ouvir de um pai frases assim:

"Meu filho mentiu, mas ele é apenas uma criança!"

"Eu não sei mais o que fazer com o meu filho!"

"Você está passando muita lição para meu filho, e ele é apenas uma criança!"

"Ele agrediu o coleguinha, mas não foi ele quem começou."

"Meu filho destruiu a escola, mas não fez isso sozinho!"

Classes super lotadas, falta de material pedagógico, espaço físico destruído, violência, desperdício de merenda, desperdício de material escolar que eles recebem e, muitas vezes, não valorizam (afinal eles não precisam fazer absolutamente nada para merecê-los), brigas por causa do "Leve-leite" (o aluno não pode faltar muito, não por que isso prejudica sua aprendizagem, mas porque senão ele não leva o leite.)

Regras educacionais dissonantes de acordo com a classe social dos alunos.

Impunidade.

Mas a educação não vai bem, por causa do professor.

Encerro esse desabafo com essa pergunta que li a poucos dias:

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.
"Todo mundo  pensando em deixar um planeta melhor para nossos  filhos...  Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"



(20/06/2009)


Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=22267

22 maio, 2010

Sobrevivencia Docente

BREVE GUIA DE SOBREVIVÊNCIA DOCENTE

Importante: leia o texto até o fim, sobretudo o item 7, antes de qualquer providência. Ele partiu de minha experiência prática e comigo tem dado certo. Isso não garante que dê certo sempre, por isso adapte à sua realidade e personalidade. Sobretudo, reflita sobre as razões históricas apontadas no começo do texto! Boa sorte. Atalho deste texto: bit.ly/sobrevidadocente


Diariamente nós professores nos sujeitamos a situações complicadas e perigosas. Devemos saber que nem sempre foi assim. Aprofundando a História da Educação no Brasil é possível verificar que tínhamos direitos semelhantes a membros do Poder Judiciário. Mas, ao longo do tempo, fomos abrindo mão gradual desses direitos, sem nos darmos conta. Tudo em nome de um suposto "sacerdócio" da profissão (professor é um missionário, por isso deve se contentar-se com situações diversas) e de uma pseudo maternidade transferida para a profissão (professor é tio/tia, irmão/irmã da mãe e, por isso, membro da família, não mais um profissional da Educação)

As consequências foram fatais: 

1) Por parte do Poder Público somos vistos como alguém que aceita tudo, que não questiona e não se mobiliza enquanto categoria; como somos "incapazes" (segundo resultados das provas institucionais) precisamos seguir uma "bíblia", um guia criado pelos tecnicamente capazes (seguindo à risca esses manuais, poderemos ser recompensados por gratificações monetárias); como somos sacerdotes e membros das famílias dos alunos (somos tios e tias) não podemos adoecer e não podemos ter família (ao menos, nossos familiares também não podem adoecer), temos que sempre estar trabalhando (se o fizermos, as chances de recebermos recompensas monetárias aumentam).

2) Por parte de grande número das Famílias dos alunos somos vistos como alguém que deva fazer tudo o que as famílias outrora faziam e agora não mais o fazem (salvo exceções). Ou seja, a família terceirizou a nós (sem a devida remuneração que nos caberia) seu papel educativo, ficando apenas com o papel reprodutivo (claro que existem exceções, não podemos generalizar).

3) Por parte da grande imprensa comercial (fiel escudeira e sustentadora do pensamento de quem detém o poder na sociedade) somos vistos como aqueles que devem apenas cumprir deveres, apenas cuidar da prole alheia. E ai de nós se um membro dessa prole vem a falecer em nossas mãos: somos bandidos e cruéis assassinos de crianças! Ai de nós se ficamos doentes ou nos acidentamos e não pudermos mais cuidar da prole terceirizada: somos incapazes e desqualificados, devemos ser remunerados e gratificados apenas se formos capazes de cumprir com o papel cobrado de nós (ignorando as condições reais de trabalho). Para essa imprensa, é "normal" o aluno encostar a mão no professor (para agredir ou constranger) , mas o professor encostar a mão no aluno (para separar uma briga ou mesmo fazer um afago na cabeça em sinal de amizade, como nossas mães sempre fizeram), é violento ou pedófilo.

A partir de tudo isso, decidi redigir um breve manual de sobrevivência. São atitudes práticas e simples, que podem valer nossa sobrevivência, quer enquanto Educador, quer enquanto ser humano (pois até isso, o ser humano, tentam roubar de nós). Vão ai algumas dicas:

1) Somos Educadores, profissionais da Educação encarregados de educar o ser humano. Não somos médicos (para receber doentes), nem assistentes sociais (para resolver problemas das famílias), nem meros "olhadores" (para apenas olhar a prole alheia, sem dar intervenção pedagógica - tem famílias que não aceitam quando o professor corrige seu filho), muito menos policiais (para separar brigas). Portanto, somos responsáveis somente pelo desenvolvimento cognitivo, corporal e social de nossos alunos. Não permitamos que problemas externos invadam nossas aulas, nem esvaziem nossa função docente! Tente pedir para que um médico ou um advogado faça alguma função que não seja de sua profissão... não farão! Por que nós fazemos?!? (não quero dizer que não devamos ter um olhar humano sobre nossos alunos, acolhendo seu universo e sua vivência; só quero dizer que não devemos nos influenciar e esvaziarmos de nossa função!!!!)

2) Nós fazemos compras na classe, arrumamos a casa e cuidamos de nossas famílias na classe? Então por que levamos coisas da escola para fazermos em casa?!? Essa clareza de definição de lugares e funções é essencial para nossa sanidade mental. Somos (ou estamos) professores dentro de nosso local de trabalho; em outros locais somos e estamos de acordo com o que estivermos fazendo. Em alguns sistemas de ensino, como na Prefeitura de São Paulo, os professores são remunerados por três aulas semanais para elaborar suas aulas em local de livre escolha. E eu escolhi ler um livro que possa ser usado em sala de aula, assistir um filme ou peça teatral com a mesma finalidade, ou mesmo cumprir essas horas na escola, antecedendo meu horário de trabalho e tentado barrar problemas externos às aulas já na porta da escola através de um  franco diálogo com os alunos que vão chegando e apresentando seus problemas. Mas cada um fica livre para usar essas horas, sem invadir sua privacidade e de sua família!

3) Não somos estátuas, nem sacos vazios; temos uma alma. Independente de crenças ou descrenças, devemos ter uma espiritualidade para nos deixar firmes quando os problemas tentarem nos derrubar. Essa espiritualidade pode ser fortalecida por leituras, músicas, relaxamento, passeios ou mesmo com uma conversa gostosa com os amigos. Não se iluda, sem cultivar esse lado místico você ou cai no buraco (e arrasta junto quem está por perto, sua família) ou você se enfia em coisas piores. Não permita que roubem sua alma, sua personalidade, sua liberdade, sua privacidade!

4) Já reparou como vários alunos entram na classe com celulares (por mais proibidos que sejam)? Alguns podem usar para gravar nossa aulas (mesmo que não percebemos, eles podem fazer isso apenas por fazer, mas também para criar embaraços a nós). Antecipe-se e deixe claro que todos os envolvidos na aula têm direito a privacidade e nenhuma imagem de ninguém poderá ser publicada em nenhum lugar (pode ser apenas para álbum pessoal de recordação). Essa conversa de uso da imagem cai por terra em nossa sociedade informatizada, pois em todos os locais públicos estamos sendo filmados. O que não se pode é divulgar e publicar essas imagens. Por isso, caso você sentir-se ameaçado por alguém GRAVE SUAS AULAS SIM, COMO RECURSO DE LEGITIMA DEFESA. Você só não pode dar publicidade a essas gravações jamais; elas servirão para que você se defenda se alguém te acusar de algo que não fez, são de seu arquivo pessoal e intransferível (da mesma forma que imagens captadas por alunos: são do arquivo pessoal deles e não poderão ser divulgadas jamais).

5) Em nenhuma circunstância toque em alunos, mesmo para separar brigas, pois suas digitais ficarão neles e isso pode te comprometer em um exame de corpo delito ou mesmo em um depoimento forjado no qual você poderá ser incriminado por causar ferimentos no ato de segurar em alguém (o aluno tentará se libertar de você e se ferirá em seu relógio de pulso, por exemplo). Abra a porta da classe busque por socorro. Oriente para que outros alunos não tentem separar, pois quanto mais gente no tumulto, pior fica. Nunca tente resolver uma situação agressiva no momento, deixe que tudo se acalme para depois chamar as partes envolvidas. IMPORTANTE: FAÇA UM RELATÓRIO ESCRITO DE TUDO, isso poderá te ajudar futuramente.

6) Se for agredido ou ameaçado em seu local e momento de trabalho não tenha dúvida: registre um boletim de ocorrência no distrito policial mais próximo. Se alguém te acusar de ter posto a mão em algum aluno, peça exame de corpo delito e deixe claro que você poderá reverter a situação processando a pessoa por calúnia e difamação se nada ficar provado contra você. NÃO PERCA TEMPO COM DISCUSSÕES, AJA IMEDIATAMENTE!

7) A mais importante: por mais complicada que seja a comunidade atendida pela escola, tente aproximar-se dela. Esta dica é vital e poderá evitar que você tenha que tomar as atitudes postas no item anterior. Se a comunidade sentir você a seu lado, grande parte de seus problemas em classe desaparecerão. Mas a atitude deve partir não somente de você, mas de um grupo de professores. Muitas vezes estar na porta da escola e cumprimentar serenamente uma mãe ou mesmo um aluno pode desmontar todo um esquema de violência simbólica que esteja se formando no lugar. Não tenha dúvida, eu coloquei isso em prática muitas vezes, com resultados satisfatórios (é se antecipar e não permitir que problemas externos invadam sua aula).

Enfim, nossa profissão também tem coisas belas. Tente descobri-las, peça ajuda a alguém nesse sentido. Mesmo naquele aluno mais complicado pode-se descobrir coisas belas e trabalhar com elas. É uma questão de tempo.

Abraços fraternais.
João Cesar.


13 março, 2010

Alerta aos Educadores Paulistanos

Há pelo menos quatro anos há indícios muito fortes de uma terceirização/privatização do ensino municipal. Quando eu comentava, na ocasião, com alguns colegas, muitos duvidavam. Mas agora o negócio começa a "pegar forma".

Há décadas existem convênios com entidades particulares, sobretudo na questão dos CEIs (antigas creches): é mais fácil firmar convênios desse tipo do que fazer crescer a rede; é mais fácil colocar o dinheiro na mão das entidades, para elas se virarem, do que a própria administração fazer aquilo que é seu dever constitucional: prover as necessidades educativas da população, e de forma direta (com seus equipamentos e seus recursos humanos, não os de terceiros).

Em 2006, por ocasião do Programa "São Paulo é uma escola", ao ampliar-se o tempo de permanência dos alunos dentro da escola (cumprindo a tal ampliação colocada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), criou-se em São Paulo a figura do oficineiro e das ONGs na Educação: as sextas aulas eram administradas por pessoas ligadas a entidades pagas pelo dinheiro público. Viu-se a criação de muitas ONGs para essa finalidade.

Claro que existem as ONGs sérias. Mas aflorou-se muitas com atitudes duvidosas. Por exemplo: juntar duas ou mais classes em uma única sala de aula e trabalhar capoeira, para ganhar por três turmas ao mesmo tempo. Nesse exemplo, obviamente, a qualidade do trabalho é nitidamente questionável pelos resultados obtidos: alunos machucados por trabalharem em espaço não compatível com a prática - e sobrava para os professores dessas turmas justificarem o injustificável para as mães que lhes reclamavam (quando não ameaçavam).

Paralelamente a isso, sempre existiram entidades ligadas a bancos e emissoras televisivas que se propuseram a fazer "trabalhos voluntários" dentro das escolas.  Nessas escolas o progresso não é atribuído ao trabalho docente, mas a esse trabalho terceirizado. Cria-se no inconsciente coletivo de que o público não tem qualidade, por isso o privado precisa se intrometer.

Junta-se a isso, mais recentemente, uma onda de propagandas institucionais de várias entidades e fundações mostrando seus feitos em suas instituições educativas, para alimentar ainda mais nesse inconsciente coletivo de que o privado gera soluções educacionais, o público está falido. Não cabe neste blog elencar essas entidades, mas devemos lembrar de algumas dessas propagandas, como a de uma fundação ligada a um grande banco privado, que diz possuir "a maior rede de ensino privado gratuito do Brasil";  ou de uma entidade ligada a industriários que sempre mostra sua qualidade no ensino técnico. Sem falar de uma entidade montada por um artista novelistico que sempre se coloca como "amigo" da escola (como se o docente fosse seu "inimigo" e, por isso, precisa de um "amigo" para melhorar-lhe a "qualidade").

Neste início de 2010 finalmente está se falando aos docentes sobre um "Plano Municipal de Educação". Acontece que esse plano não foi criado agora, é uma caminhada iniciada há anos, na qual o docente não foi chamado inicialmente. Sabe quem foi chamado desde o início e está contribuindo com sua "visão de educação"? Se ainda não se deu conta, volte ao início deste artigo e leia-o atentamente. Se ainda não percebeu porque há um discurso sobre as faltas dos professores e da criação de parâmetros institucionais de avaliação da rede, por favor, pare tudo agora e reflita profundamente sobre tudo o que estamos passando na rede nos últimos anos!

Agora pare um pouco e pense como o transporte coletivo vem sendo administrado aqui em São Paulo há mais de 10 anos. Não parece, mas tem tudo a ver com o que está acontecendo na Educação - e ninguém fala nada!

Veja: anteriormente tínhamos a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), com frota própria e que controlava a frota de ônibus das empresas privadas (exatamente como acontece na Educação: a Prefeitura tem sua rede de escolas, mas gerencia as escolas particulares).

Acontece que a CMTC "comia" muito dinheiro público e era ineficiente. Então, ao invés de sanar os problemas internos dela, optou-se por "vendê-la" a empresas particulares (estas sim, são eficientes, como no discurso velado das entidades "parceiras" da Escola). A CMTC deixou de existir enquanto empresa pública (sua frota passou para empresas particulares) e em seu lugar criou-se um órgão gerenciador do transporte coletivo, a SPTrans (São Paulo Transportes): agora não tem mais frota, gerencia a frota das empresas particulares. Ou seja: trocou-se o público pelo terceirado, exatamente como ocorrerá com a Educação!

Continuando essa comparação da Educação com os transportes: sabe o que acontece com muitas empresas de ônibus aqui em São Paulo: elas não têm mais o funcionário com registro em carteira, contrata o motorista e o cobrador como um funcionário autônomo, numa espécie de "quarteirização" - dizem que é uma forma "eficiente" de se contratar, pois os encargos sociais "pesam" muito na folha de pagamento e que o funcionário registrado tem "muitos direitos" os quais atrapalham a "eficiência da empresa". Não parece com o discurso de que as faltas abonadas dos professores prejudicam a "qualidade" da educação?

Tem mais: há escolas particulares por este mundo afora que já "quarteirizaram" seu quadro docente, exatamente como várias empresas de ônibus fizeram com seus funcionários. Agora isso tudo chegar na rede municipal paulistana é uma questão de tempo!

Agora pare mais um pouco e reflita a quem interessa esse discurso de ótimos resultados em prova disso e daquilo. Pense também naquele seu aluno portador de necessidade especial, que teve um grande desempenho em aula, mas que as provas institucionais são incapazes de avaliar. Pense no porque sua gratificação salarial está atrelada aos resultados das provas institucionais e às faltas docentes. Pense numa rede estadual que já premia seus docentes por supostos "méritos". Pense num jornalista, proprietário de uma ONG, que critica o público e enaltece o privado. E, finalmente, compare, como eu fiz, o que aconteceu na administração do transporte coletivo paulistano e no que vem acontecendo conosco e em nosso sistema de ensino.

Pense com carinho. Mas não fique só no pensar e no lamentar. Porque enquanto estivermos lamentando e queixando, alguém estará tomando decisões em nosso lugar. E quando nos dermos conta, será muito tarde, estaremos "estufados e mortos" como o sapo que aqueceu-se junto às águas de sua lagoa: reclamava, mas não tomava qualquer atitude.

Escrevo e publico este arquivo em um fim de semana, fora de meu local e horário de trabalho, para que eu possa analisar a situação à distância, sem "sofrer" com as "consequências" do aquecimento da água de "nossa lagoa".

Abraços fraternais.

João César

Em tempo: estou cumprindo o dispositivo constitucional de liberdade de expressão. E ninguém poderá sentir-se ofendido por este artigo, uma vez que não citei nomes de absolutamente ninguém. E mais: "contra fatos não há argumentos", como se diz popularmente.
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